Growing up

O que se sente quando se faz anos?

Recordo com esforço os primeiros aniversários guardados na memória. Sou ainda pequenina e na mesa está o bolo redondo enfeitado com uma vela, um mini-chapéu, as letras desenhadas à mão e uns bonecos - por norma, um menino e uma menina - a brincarem de mãos dadas. Em torno da mesa decifro os pais, as irmãs e os vizinhos do prédio. Lembro-me também que neste dia, em especial, todos os vizinhos de todos os andares dirigiam-se cá a casa para me cantar os parabéns. Aquele momento em que as luzes estão apagadas e as palmas que se ouvem estão iluminadas pela frágil vela é a preparação para a apoteose. O grande momento, o momento pelo qual esperava ansiosamente, surge com o apagar da única luz da sala. A vela. Acendem-se as luzes. "Mãe, só mais uma vez." E ela pacientemente voltava a acender o pavio. Os olhos brilham com pura magia. Ora acende, ora apaga. E isso bastava-me para ficar sorridente.

Para além do bolo, a emoção chegava às prendas. O papel, o laço, o tamanho do embrulho, a surpresa, a expectativa. Faço um exercício rápido. Qual a prenda que mais me marcou? A mente teima em não ajudar. A muito custo penso num relógio de bracelete castanha que os meus pais me deram. Sem dúvida que foi das prendas mais bonitas.

O tempo passa e a celebração do dia de nascimento ganha relevância por outros motivos, nomeadamente para confirmar receios ingénuos ou mesmo parvos. Enquanto se executa um pequeno balanço tendo enfoque as últimas vivências, o coração bate mais forte sempre que alguém se lembra de me felicitar. Sabe bem sentir que somos importantes para alguém. E o dia só agora começou.

Olhando para trás, compreende-se uma coisa: